Pagú – Até Onde Chega a Sonda, monólogo com Martha Nowill

COMPARTILHE

Compartilhe emfacebook
Compartilhe emtwitter
Compartilhe emwhatsapp
Compartilhe emtelegram

PAGÚ – ATÉ ONDE CHEGA A SONDA

Teatro Eva Herz (Livraria Cultura)
NOVA TEMPORADA: de 8 de março a 27 de abril
Espetáculos: quartas e quintas-feiras às 20 horas
Espetáculo Até onde chega a sonda. Foto: Rodrigo Chueri

Há um consenso de que a época dos milagres (se é que existiu) já passou há muito tempo. Escrachada mentira! Quem acredita e repete isso é porque nunca vai ao teatro. Todas as noites no mundo todo em infinitos lugares, minúsculos ou amplos, o milagre se repete.

Vejam, por exemplo aqui neste acanhado (mas acolhedor) espaço, a potência do fazer teatral rompe as paredes e nos sentimos num imenso estádio!

A matriz pode ser a figura retratada, Patrícia Rehder Galvão, a PAGÚ (1910-1962): escritora, militante comunista, feminista, desenhista, jornalista. Mais um caso de uma mulher pioneira, transgressora, adiante de seu tempo!

A base da montagem são inéditos manuscritos redigidos em 1939 enquanto presa política (até nisso foi precursora). Não são textos cartesianos, mas uma espécie de fluxo do inconsciente, onde as emoções afloram poeticamente. É imperativa uma postura não racional para mergulhar (ou ser invadido) neles.

Concomitantemente, a talentosa e carismática atriz Martha Nowill se coloca quase que despudoradamente em cena como mulher, como atriz, como mãe, abrangendo desde supostas trivialidades da organização de uma festinha infantil de aniversário (para seus filhos gêmeos) até atingir a dimensão complexa de qualquer ser humano.

Em sua dramaturgia, soube SONDAR, vasculhar o seu íntimo, criando quase uma personagem de ficção: afinal ainda há muitas Noras ibsenianas por aí! A estrutura do texto culmina com a junção ao final da “sonda” com o “buraco” (sem spoiler, evidentemente).

Quem nasceu para ser ator, tem inevitavelmente no tablado o seu habitat natural, equivalendo-se (pelo menos) aos semideuses. Magnetismo, energia, segurança que se impõem nesse enfrentamento com a plateia. A preparação corporal de Roberto Alencar faz-se sentir o tempo todo.

Como se isso fosse pouco, temos a “mise-en-scène” do bruxo Elias Andreato, que com seu toque de Midas transforma tudo no melhor teatro. A luz do diretor e de Junior Docini cria com beleza estética diferentes espaços no palco.

Com uma cortina ao fundo (onde acontecem algumas projeções) e apenas um banco e duas cadeiras pretos, o cenário de Marina Quintanilha ajusta-se perfeitamente à encenação, pois os encostos das cadeiras (um reto, padrão, e outro torto, inclinado) podem suscitar diferentes ilações no espectador ou talvez até evocar a janela de uma cela. Assim também no figurino de Marichilene Artisevskis podemos encontrar ressonâncias dos desenhos de Pagú.

A sutil trilha sonora de Ed Côrtes reforça para que se estabeleça a atmosfera adequada a cada cena.

O belo e substancioso programa impresso é digno de figurar em qualquer biblioteca, particularmente pelo texto da historiadora e pesquisadora Silvana Jeha sobre a trajetória de Pagú. A qualidade do espetáculo clama por muitas temporadas nos teatros de São Paulo e do Brasil afora.

“CARVÕES ACESOS, PERMANECENDO.”

Luiz Gonzaga Fernandes

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Notícias

17/04: Ato contra a privatização da Sabesp!

A votação do projeto que privatiza a Sabesp, empresa responsável pelo tratamento de água e esgoto de São Paulo pode acontecer nesta quarta-feira, 17. Para barrar essa proposta nefasta, haverá um ato público a partir das 14h na Câmara de Vereadores.