Agosto é o mês da visibilidade lésbica. As mulheres lésbicas e bissexuais, cis e trans convivem diariamente com a invisibilidade de sua sexualidade e a fetichização, com a discriminação e ódio simplesmente pela sua identidade sexual. Elas sofrem uma dupla opressão: o machismo e a LGBTfobia.
A violência contra as LBGTs
Os dados oficiais são escassos e incompletos porque não existe tipificação do crime de lesbofobia no Código Penal brasileiro, mas é possível ter uma noção da gravidade, ainda que prevaleça a invisibilização e a impunidade.
Segundo a publicação do Senado “Panorama da violência contra as mulheres no Brasil”, em 2016 foram registrados pelo sistema de saúde brasileiro 101.218 casos de violência física contra mulheres e 27.059 casos de violência sexual. Já em relação aos registros de ocorrências de atos violentos contra mulheres (excluindo os estados de Sergipe, Pernambuco, São Paulo e Paraná), foram registrados 21.728 estupros. Não se sabe exatamente quantas destas mulheres são lésbicas ou bissexuais, mas é possível ter uma ideia de acordo com as informações recolhidas pelos grupos LGBT’s.
Segundo o “Dossiê sobre o lesbocídio no Brasil”, do Grupo de Pesquisa Lesbocídio do Núcleo de Inclusão Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro; entre 2014 e 2017 126 lésbicas foram assassinadas ou se suicidaram no Brasil, a maioria jovens entre 20 e 24 anos. Ainda segundo o grupo, apenas nos primeiros dois meses de 2018, foram registrados mais 26 casos de assassinatos de mulheres lésbicas.
Já o Grupo Gay da Bahia (GGB) registrou 445 homicídios de LGBT’s em 2017, sendo 43 lésbicas. Isso significa que a cada 19 horas uma LGBT é assassinada ou se suicida vítima da “LGBTfobia”.
29 de agosto
O dia 29 foi escolhido como dia de luta contra a lesbofobia e a bifobia no 1º Seminário de Mulheres Lésbicas, ocorrido no Rio de Janeiro em 1996. Em 19 de agosto de 1983, ocorreu o primeiro grande protesto liderado por lésbicas em São Paulo, em frente ao Ferro’s Bar. Em repúdio à repressão sofrida por lésbicas do grupo GALF, que discursavam e vendiam seu jornal “ChanacomChana”, o movimento ocupou o bar e o que virou um símbolo de resistência lésbica, conhecido como o Stonewall brasileiro.
Opressão e exploração
Nesse período de eleições, vários candidatos disputam o voto das mulheres lésbicas e bissexuais, cis e trans. A maioria faz parte dos mesmos grupos políticos que nunca proporcionaram nenhuma conquista para o movimento LGBT. Parlamentares que passaram os governos de FHC, de Lula, de Dilma e de Temer sem sequer propor uma política pública voltada para o segmento, como de combate à violência.
Ao contrário, a maioria dos candidatos votou a favor de projetos de leis e reformas que retiram direitos dos trabalhadores, mas, principalmente, que atacam as mulheres. Exemplo disso é a reforma trabalhista, que precarizou os direitos e favoreceu o aumento da exploração sobre as trabalhadoras em geral e também sobre as lésbicas e bissexuais, agora menos protegidas do assédio moral e mais sujeitas ao desemprego crescente.
O candidato à presidente Jair Bolsonaro, em segundo lugar nas pesquisas, caracteriza-se por ser machista, racista, LGBTfóbico e xenofóbico, além de também ser corrupto (tentou valer-se de uma manobra contábil para esconder a propina recebida). Bolsonaro desrespeita as mulheres, chegando a dizer que a deputada Maria do Rosário do PT não “merecia ser estuprada”. Agride verbalmente os LGBTs, defendendo, inclusive, violência física aos mesmos: “se eu ver dois homens se beijando na rua, vou bater”, disse. Humilha negros, quilombolas e índios, que chamou de “fedorentos, não educados e não falantes de nossa língua”. Chamou os imigrantes, como os haitianos, senegaleses, bolivianos e sírios, de “escória” do mundo.
As frases preconceituosas e o comportamento agressivo deste referido presidenciável revela, além da falta de caráter, um objetivo político: dividir os trabalhadores e setores pobres, jogando-os uns contra os outros. Essa é uma tática consciente que tem o intuito de manter a dominação sobre toda a classe trabalhadora.
Enquanto perdurar esse sistema, os governos vão tentar retirar os direitos dos trabalhadores a cada novidade em meio à crise econômica. Por isso, é preciso construir uma luta coletiva contra todas as formas de opressão e exploração, em defesa de uma nova sociedade, definida pelos próprios trabalhadores.
Publicado em 29 de agosto de 2018
Com informações da CSP-Conlutas