O assassinato brutal de Maria Bernadete Pacífico, mais conhecida como Mãe Bernadete — ialorixá (Mãe de Santo), líder quilombola e defensora dos direitos humanos, completou dois anos sem punição aos responsáveis pelo crime.
Apesar da repercussão, os acusados ainda não foram julgados. Essa morosidade agrava a dor da comunidade e evidencia as falhas do sistema de Justiça.
Especulação imobiliária como pano de fundo
Logo após o crime, o filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, denunciou que o território quilombola Pitanga dos Palmares era alvo de especulação imobiliária e crimes ambientais. A ausência de titulação oficial tornava a comunidade vulnerável à cobiça de interesses que tratam os quilombos como “terras sem dono”.
Em 8 de abril de 2024, o Incra publicou a portaria de delimitação do território. Com isso, iniciou-se a fase de desapropriação de propriedades particulares, com a preparação da documentação para envio à Presidência da República e decretação das desapropriações por interesse social. A titulação definitiva, porém, ainda não foi concluída.
Para Jurandir, o assassinato foi consequência direta dessa luta: “A titulação é como se fosse um campo de força contra os inimigos” — a busca pelo reconhecimento territorial transformou o legado de sua mãe em alvo de violência.
Justiça em ritmo lento
Desde o crime, cinco pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público da Bahia: três estão presas desde 2024 e aguardam julgamento, enquanto duas permanecem foragidas. Os processos estão em fase de “desaforamento” — medida que transfere o júri para outra comarca, a fim de garantir imparcialidade em relação a Simões Filho, onde o crime ocorreu. Até agora, não há data definida para o júri popular, frustrando familiares e movimentos que exigem justiça.
Impunidade
À lentidão judicial soma-se a crítica de movimentos quilombolas, como a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). A entidade repudiou e deu visibilidade a soltura de um dos envolvidos, em junho de 2025, entendendo a decisão como mais um golpe na luta por justiça e um sinal de que é possível exterminar lideranças negras e quilombolas sem consequências reais.
Essa impunidade fortalece o ciclo de violência que atinge quem ousa defender os direitos dos povos tradicionais, dos povos de terreiro e dos que lutam contra o racismo ambiental e fundiário.
Cabe lembrar que Mãe Bernadete estava sob proteção do Programa de Defensores de Direitos Humanos, do governo federal, quando foi assassinada. Sua morte expôs falhas no sistema de proteção e escancarou o risco permanente ao qual estão submetidas as lideranças quilombolas em todo o território nacional.
O Sindsef-SP se soma as vozes que clamam por justiça, para que esse crime não figure como mais um número nos levantamentos estatísticos.
Com informações: Alma Preta, Agência Brasil e G1