Tarifaço de Trump e a luta das mães contra a violência do Estado pautaram reunião do Conselho Deliberativo do Sindsef-SP

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A ameaça de um novo tarifaço por parte do governo Trump e a luta das mães contra a violência do Estado deram o tom dos debates na reunião do Conselho Deliberativo do Sindsef-SP, realizada no último sábado (26/07).

A atividade foi aberta com uma saudação do Secretário Geral, Luis Genova, que passou a palavra para o convidado Israel Luz, pelo Ilaese.

Israel apresentou uma análise crítica dos ataques de Trump, traçando uma linha cronológica de março até os dias atuais. Trouxe elementos que mostraram o vasto controle do capital financeiro estrangeiro no Brasil, com bilhões de dólares em ações e títulos da dívida, gerando juros e renda que migram para fora do país sem gerar empregos internos.

Em um movimento agressivo que mistura protecionismo econômico e interferência política, o governo Trump intensificou seus ataques comerciais contra o Brasil. Desde março de 2025, os EUA impuseram tarifas de 25% sobre aço e alumínio, seguidas por uma taxa “recíproca” de 10% em abril sobre exportações latino-americanas – exceto Venezuela e Nicarágua –, afetando produtos como café, petróleo, aeronaves e carne bovina. Em julho, ameaçou elevar as tarifas para 50% sobre todas as exportações brasileiras, previstas para vigorar em 1º de agosto, além de abrir uma investigação contra o Brasil por supostas “práticas desleais”.

A carta enviada por Trump ao governo brasileiro explicita o grau da ingerência ao associar a possível sanção à chamada “caça às bruxas” contra a família Bolsonaro (verdadeiros lesa-pátria e vassalos de Trump). Trata-se de uma manobra que mistura interesses econômicos com alianças ideológicas, revelando o alinhamento da extrema-direita global.

É um movimento que busca pressionar o Brasil a ceder espaço político e produtivo aos interesses dos grandes conglomerados dos EUA, incluindo a indústria tecnológica e o setor financeiro, interessados em abocanhar fatias de mercado como os sistemas de pagamento eletrônico e os lucros do agronegócio.

Dados expõem a dependência estrutural do Brasil:
• Capital brasileiro representa apenas 0,85% das 500 maiores empresas globais (EUA: 39,69%, China: 20,14%).
• Estrangeiros controlam US$ 337 bilhões em ações no Brasil, enquanto o país tem apenas US$ 43 bilhões no exterior.
• 27% do capital estrangeiro (US$ 444 bi) está em títulos da dívida, gerando juros parasitários sem criar empregos.

Disputa Inter-Imperialista e a Soberania Brasileira

De acordo com o estudo do Ilaese, essa disputa comercial entre EUA e Brasil é parte de uma competição maior por mercados e influência global entre os imperialismos, especialmente Estados Unidos e China. Embora a China seja hoje o principal parceiro comercial do Brasil, o capital norte-americano ainda detém hegemonia econômica no país, com décadas de acúmulo e influência.

A disputa também se manifesta na busca por matérias-primas, como as terras raras, minerais essenciais para a indústria de alta tecnologia e militar. A China concentra as maiores jazidas, e o Brasil possui a segunda maior, o que o coloca no centro dessa disputa.

Reflexos Políticos

Politicamente, o governo federal se posiciona como porta-voz dos grandes setores exportadores, buscando realinhar setores capitalistas e garantir hegemonia política para as próximas eleições. Caso as tarifas sejam aplicadas, o governo provavelmente socorrerá as empresas com linhas de crédito.

Enquanto isso, o governo Lula tem reagido com declarações genéricas de “defesa da soberania” e promessas de planos de contingência que seguem sem detalhamento. No fundo, tanto o governo federal quanto os governadores dos estados mais atingidos — como Tarcísio de Freitas, em São Paulo — evitam medidas concretas que confrontem os interesses do capital internacional. A chamada “lei da reciprocidade”, aprovada em abril, está longe de ser aplicada. O motivo é claro: os grandes capitalistas brasileiros, que controlam a produção de café, laranja, aeronaves e minérios estratégicos, não querem conflitos com os EUA. E o governo hesita em contrariá-los.

Nesse contexto, a classe trabalhadora brasileira está sendo colocada como moeda de troca. Setores como os metalúrgicos da Embraer e os trabalhadores rurais do agronegócio já sentem os impactos diretos da incerteza econômica: ameaça de demissões, arrocho salarial e chantagens patronais nas campanhas salariais. E, mais uma vez, os servidores públicos também estão na mira: a submissão do país à lógica do capital estrangeiro é a mesma que sustenta os cortes orçamentários, o arcabouço fiscal e as propostas de reforma administrativa.

Desafios da Classe trabalhadora

Para o secretário-geral do Sindsef-SP, Luis Genova, é fundamental que o povo vá às ruas para reagir aos ataques em curso. Segundo ele, Trump não é apenas um fanfarrão, mas representa setores da burguesia americana que vêm perdendo espaço frente ao avanço da China. E os BRICS têm papel nesse novo equilíbrio geopolítico. “Mas tanto China quanto Estados Unidos são potências imperialistas e sugam riquezas dos países periféricos de diversas formas”, alertou.

Genova salientou que não se pode ter ilusão de que o governo brasileiro enfrentará de fato o imperialismo. “Enfrentamos um governo com uma política neoliberal. Basta ver: me citem qual ministério está voltado para os interesses da classe trabalhadora? Nenhum”, afirmou. Para ele, apenas com pressão popular será possível arrancar uma resposta que atenda os interesses dos trabalhadores. Do contrário, acordos serão feitos para beneficiar apenas os empresários.

Ele também denunciou a falácia da mentirosa campanha dos “pobres contra os ricos” usada para justificar a política fiscal: “Quem paga o grosso do IOF são os trabalhadores e a classe média com seus cartões de crédito e empréstimos. Justiça social se faz taxando os dividendos, eliminando a farra dos incentivos fiscais e fortalecendo os serviços públicos.”. E defendeu que o plebiscito que está sendo chamado deixe de ser “chapa branca” e incorpore as pautas reais da classe trabalhadora, como o fim do arcabouço fiscal, o fim da escala 6×1 e a estabilidade no emprego. “Não dá para cair em discursos vazios sobre soberania nacional e justiça social sem tomar medidas práticas”, concluiu.

Os impactos da reforma administrativa sobre os servidores e os serviços públicos também foram debatidos no Conselho. Tanto o convidado quanto os participantes destacaram que a luta por mais investimento público e por um Estado forte, que valorize os trabalhadores e os serviços essenciais, está diretamente ligada ao enfrentamento do imperialismo.

Nesse sentido, uma das principais políticas anti-imperialistas possíveis hoje seria a suspensão imediata do arcabouço fiscal, que determina cortes nas áreas sociais, enfraquece o Estado e impõe a lógica do capital financeiro.

A luta das mães contra a violência do Estado

A Campanha fora Derrite – Dois vídeos abriram a segunda parte do Conselho Deliberativo, fazendo um link entre o Dia da Mulher negra Latino Americana e Caribenha e a luta das mães que perdem seus filhos em operações policiais violentas.

Sob o pretexto de garantir a “segurança pública”, em São Paulo, a letalidade policial aumentou 65% em 2024. Jovens negros seguem sendo assassinados, como o operário Guilherme, assassinado com um tiro nas costas enquanto corria para tomar o ônibus ao sair do trabalho. Ou o caso do menino Ryan, de quatro anos, assassinado na Baixada Santista.

Nem toda violência acaba em morte. Também existe o encarceramento de jovens negros inocentes, acusados a partir de métodos de reconhecimentos falhos, baseados em testemunhas que afirmam identificar “sem sombra de dúvidas”. Isso também é violência do Estado.

Essa violência tem cor, classe e território. Família inteiras são abaladas: mães, avós, tias, irmãs. Poderíamos ficar horas ouvindo outras histórias com o mesmo enredo de violência policial. Um caso atrás do outro, elas são atacadas nos seus bairros, nas escolas e nos seus locais de trabalho, por uma questão de racismo. Relatos fortes, contundentes, que levam às lágrimas quem conta e quem ouve.

O Sindsef-SP se soma à campanha Fora Derrite — Inimigo do Povo! Chega de Racismo e Mortes nas Periferias do Brasil, articulada por movimentos sociais e mães de vítimas da violência do Estado. A iniciativa também inclui a distribuição da cartilha “Manual de sobrevivência na guerra dos de cima contra os de baixo”, com orientações para jovens da periferia sobre como agir diante de abordagens policiais.

A demissão do secretário de segurança de Tarcísio de Freitas é o mínimo. Mas sabemos que o problema é estrutural: os governos mudam, mas a política de extermínio se mantém — seja sob a gestão de Tarcísio em SP ou do PT na Bahia.

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