A assembleia dos servidores da cultura, realizada na quarta-feira (21), teve como um dos principais pontos de debate o cronograma apresentado pelo Ministério da Gestão e da Inovação (MGI) para a negociação da reestruturação da carreira, considerado inadequado por seu prazo excessivamente longo.
O primeiro ponto de pauta foi o informe sobre o ato realizado no Rio de Janeiro, durante a inauguração do Palácio Capanema. A servidora Corina e o servidor Renato, ambos do Iphan, representaram os trabalhadores da Cultura em São Paulo nessa atividade.
Corina destacou o simbolismo do Palácio Capanema, apontado como o prédio que dá materialidade para as políticas de cultura e o peso político do ato que resultou na entrega de uma carta ao presidente Lula, com as reivindicações do movimento.
“Agora ninguém pode dizer que o Lula não sabe o que está acontecendo. Ele sabe que temos um pleito histórico, estamos há vinte anos esperando esse plano de carreira. Fomos extremamente felizes em realizar esse ato”, afirmou Corina.
Na sequência, foram repassados informes sobre as tratativas com o MGI. As falas foram unânimes em rejeitar o cronograma apresentado, avaliando que é necessária a formalização de uma proposta com garantias mínimas de que a negociação resultará, de fato, na implantação do plano de carreira e em melhorias na tabela. A desconfiança tem base no histórico de descaso com a categoria.
Luis Genova, servidor do Ipen e secretário-geral do Sindsef-SP, alertou para o fato de que o governo Lula não tem cumprido acordos com outras categorias, e que o setor da cultura já viveu frustrações semelhantes no passado. Não basta o governo afirmar que haverá ganhos financeiros, porque o teto do arcabouço fiscal pode ser usado para restringir avanços reais.
A avaliação é de que qualquer avanço conquistado até agora se deve exclusivamente à deflagração da greve. “Se não tivéssemos paralisado as atividades, nosso plano estaria parado na gaveta do MGI, como ficou durante nove meses”, pontuou uma servidora.
Comunicação e visibilidade da greve
Outro ponto importante da assembleia foi a necessidade de fortalecer a comunicação com a sociedade. Uma servidora relatou os esforços em curso para dar visibilidade ao movimento junto a canais de mídia independente e de esquerda, destacando que os primeiros retornos estão começando a aparecer.
A divulgação do abaixo-assinado tem sido uma das estratégias para ampliar o apoio popular. Assinaturas foram coletadas no ato realizado no Teatro de Arena, no dia 14/05, no Sarau da Quebrada, em Santo André, e por meio da publicação do link no Instagram do MAE USP.
Os servidores do Museu Lasar Segall também contribuíram com a divulgação do movimento durante uma atividade, quando algumas pessoas deixaram suas tarefas regulares para debater com o público sobre o que está acontecendo na Cultura Federal.
A assembleia deliberou pela criação de uma comissão de comunicação, que ficará responsável por organizar ações públicas, articular apoios institucionais e populares e ampliar a presença do movimento nos meios digitais.
Além das questões políticas, a assembleia tratou da gestão prática da greve, como o atendimento a demandas urgentes no Iphan, aprovação de um texto unificado para responder e-mails e outras solicitações que chegam ao Instituto. Essa questão foi encaminhada para ser finalizada no grupo específico dos servidores do órgão.
Encaminhamentos e mobilização
Entre os encaminhamentos da assembleia, está a elaboração de uma contraproposta ao cronograma do governo, que será levada ao Comando Nacional de Greve, com prazos reduzidos e exigência de participação efetiva dos servidores nas discussões. A expectativa é que, possivelmente na sexta-feira (23), ocorra a Plenária Nacional da Cultura, onde será avaliada a força do movimento nacionalmente e a partir dela definir os próximos passos.
O clima geral da assembleia de São Paulo foi de unidade e urgência. “Não é hora de arrefecer. Essa luta é agora ou não é. Se esse plano de carreira não sair, o esvaziamento do Ministério da Cultura e de suas vinculadas coloca em risco as próprias políticas públicas de cultura”, alertou uma servidora.
A mobilização segue como única via possível para assegurar avanços concretos na valorização dos servidores da cultura. É greve porque é grave!