Um filme brasileiro, feito em 1918, que viajou até a Europa, desapareceu por décadas e só recentemente foi redescoberto, restaurado e liberado gratuitamente no YouTube. Essa é a história de Amazonas, o Maior Rio do Mundo, obra de Silvino Santos que volta à cena mais de 100 anos depois de ter sido filmada — e sem nunca ter sido exibida no Brasil até então.
Produzido entre 1918 e 1920, o média-metragem é um dos primeiros registros audiovisuais da região amazônica, feito com olhar etnográfico, mas carregado de um exotismo típico do olhar estrangeiro. A obra destaca mais o valor econômico da floresta (borracha, madeira, peixe, pele de animais) do que a beleza natural ou a vida dos povos originários. Não por acaso, o filme foi redescoberto na Europa e restaurado com letreiros em tcheco, evidenciando seu público-alvo inicial: os olhos do capital estrangeiro.
Assistir hoje a Amazonas é uma experiência que vai além da curiosidade histórica. É um exercício de reflexão sobre como o Brasil foi (e ainda é) apresentado ao mundo, sobre a preservação da memória audiovisual, e sobre as formas — muitas vezes racistas e utilitaristas — com que a cultura e os corpos amazônicos foram representados. O filme nos lembra que o cinema pode ser vitrine, mas também espelho. E o que esse espelho revela diz muito sobre as forças políticas, econômicas e simbólicas de cada época.
Uma verdadeira relíquia resgatada do esquecimento, que hoje se confronta com um país em nova encruzilhada ambiental e social. Assista e compartilhe: