Em dia de protestos, mais de 50 palestinos são mortos pelo exército israelense e ao menos 3 mil ficam feridos. Ato de apoio organizado por movimentos sociais ocorre em São Paulo nesta terça-feira, 15 de maio.Ao menos 55 palestinos foram mortos e mais de três mil ficaram feridos nessa segunda-feira (14), em mais um dia de fortes protestos que ocorrem há mais de um mês na Palestina ocupada, em mobilização chamada de Grande Marcha do Retorno.
De acordo com o comunicado oficial, até o momento [14/5, às 16h00], 79 foram feridos no pescoço, 161 nas pernas, 62 no peito e nas costas, 52 na região abdominal, e 1055 atingidos nos membros inferiores. Cerca de 200 feridos são crianças e 78 mulheres.
As manifestações ganharam intensidade desde 30 de março, Dia da Terra. Mas os atos de resistência estão em constante escalada a partir do anúncio de transferência da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, concretizada hoje, e da declaração do presidente norte-americano Donald Trump ao reconhecer o local de importância histórica como capital de Israel. A atitude quebrou o consenso internacional de que o status de Jerusalém seria determinado via acordo de paz entre Israel e os palestinos.
Massacre – Os protestos desta segunda ocorrem em toda a Palestina ocupada. Faixa de Gaza é o local com mais registros de feridos e mortos. Conforme o Ministério da Saúde, dos feridos, há ao menos seis palestinos abaixo dos 18 anos, incluindo uma garota.
Majed Abusalama, estudante de Gaza que hoje vive em Berlim, na Alemanha, conta que um amigo próximo dele foi assassinado pelo exército israelense. “Cada pessoa assassinada deixou uma história, familiares e amigos. O ativista Ahmed Aladini, de 30 anos, deixou uma filha pequena e a família”, conta. Os pais de Majed vivem em Gaza. Segundo ele, participaram dos protestos de hoje e viram muitos soldados atirando com munição real contra manifestantes.
Ato de apoio – Para expressar apoio ao povo palestino, nesta terça-feira, 15 de Maio, em São Paulo, movimentos sociais realizarão ato público que marcará o dia da Nakba – a chamada Catástrofe Palestina.
A jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh, autora do livro Al Nakba – um estudo sobre a catástrofe palestina (Editora Sundermann), faz um chamado para que todos e todas fortaleçam a solidariedade internacional e se somem a campanhas centrais de apoio, como a de BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) a Israel.
“No Brasil, fortalecer a campanha de BDS é urgente, uma vez que nos últimos 15 anos, infelizmente, o País se tornou um dos cinco maiores importadores de tecnologia militar israelense. Ou seja, financia o apartheid, a ocupação e a colonização sionistas, ao comprar tecnologias que são testadas sobre os verdadeiros laboratórios humanos que Israel converte os palestinos”, pontua.
A campanha não somente beneficia a luta do povo palestino, mas está também diretamente relacionada com a violência que sofre a população pobre e negra no Brasil. Soraya destaca que “armas e blindados israelenses estão também nas mãos das polícias que promovem o genocídio do povo pobre e negro nas periferias dos estados brasileiros, que nos 130 anos da abolição seguem lutando contra o racismo que serve ao capitalismo e por reparações”.
Nakba: a tragédia continua – os atos desta segunda na Palestina ocupada antecedem a data sempre lembrada pelos palestinos que vivem sob ocupação israelense e por todos os mais de 5 milhões de refugiados. O 15 de Maio marca em 2018 os 70 anos da expulsão dos palestinos de suas terras, quando em 1948 foi concretizado o projeto sionista de criação do estado de Israel.
Foram mais de 500 aldeias destruídas e 800 mil palestinos expulsos. Tudo isso previamente planejado, de modo que, como destaca em seu livro, com base na obra de Illan Pappé em História da Palestina Moderna, todo o território da Palestina se desmembraria em “três entidades”: A Cisjordânia e a Faixa de Gaza, e “a terceira entidade era Israel, decidida a judaizar todas as partes da Palestina e a construir um novo organismo vivo, a comunidade judaica de Israel”.
Na obra, Soraya também destaca que a tomada de regiões de Jerusalém, “todas em áreas destinadas na partilha ao estado árabe”, seguiu o procedimento de praxe do estado de Israel, com violência, expulsão e assassinatos de moradores locais, a fim de ocupar esta área de importância geográfica e cultural determinantes para o domínio da Palestina. “Os objetivos dessas operações eram dois: limpar o caminho entre Tel-Aviv, Yafa e Jerusalém para livre movimentação das forças judaicas; limpar as vilas árabes do flanco oeste de Jerusalém da população palestina para prover déficit demográfico e um vínculo entre a proposta do estado judeu e a cidade de Jerusalém, conforme o Plano Dalet”, expõe em citação de Salim Tamari, sociólogo palestino.
Estamos em 2018, e ainda neste ano as terras de Umm al-Hiram, um vilarejo inteiro de beduínos, serão destruídas. Sobre suas ruínas, um novo assentamento será construindo, deixando cerca de 400 palestinos desalojados.
Os assentamentos seguem em expansão, ano após anos, de modo sistemático para integrar áreas de Jerusalém à Cisjordânia. A contínua desapropriação de terras e expulsão de palestinos só constata que o dia da catástrofe permanece como rotina na Palestina ocupada.
Além do roubo de terras, leis racistas conformam um verdadeiro estado de apartheid na Palestina. “Para os palestinos, contar as histórias da Nakba também é resistência. Israel tentou, via limpeza étnica em 1948, apagar essas memórias, que seguem vivas e são transmitidas de geração a geração”, explica Soraya. Para ela, este 15 de Maio é também “o momento de saudar essa resistência histórica e heroica, sobre todos os meios, a qual se expressa agora na Grande Marcha do Retorno a partir de Gaza. Resistência que segue a inspirar os que lutam contra a exploração e opressão em todo o mundo”.
A Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas reforça o chamado por apoio ao povo palestino, e divulga moção de solidariedade [confira AQUI] e material de campanha nesta data que marca os 70 anos de luta por justiça na Palestina. No documento, a Rede afirma que participará de ações neste “trágico aniversário, protestando por todo o mundo, na embaixadas e consulados israelenses, exigindo sanções contra o Estado criminoso, chamando a todas e todos a se unirem pela campanha internacional de boicote ao apartheid israelense”.
A CSP-Conlutas reforça o chamado para que estejamos todos, neste 15 de Maio, às 19h, no Vão Livre do Masp.
Um ônibus sairá do restaurante Al Janiah, localizado no bairro do Bixiga em São Paulo, com o reforço de refugiados e apoiadores da causa que trabalham no local.
Neste 15 de Maio, estaremos todos nas ruas, erguendo a bandeira pela Palestina livre. Do rio ao mar!
Fonte: CSP-Conlutas