Pedro Paulo e Hugo Motta fazem manobra para acelerar ataques ao serviço público

A tramitação da PEC 38/2025, que retoma a Reforma Administrativa derrotada em 2021, deve ser acelerada na Câmara dos Deputados. Em entrevista ao Congresso em Foco, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) afirmou que o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), já decidiu levar a proposta diretamente ao plenário, sem passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nem por comissão especial — uma manobra regimental que reduz o debate público e tenta blindar o texto das críticas de servidores, especialistas e entidades representativas.
Segundo Pedro Paulo, a estratégia será apensar a PEC 38/2025 a outra proposta já em estágio avançado, de modo a aproveitar o trâmite e “ganhar tempo”. Ele afirmou: “A decisão do presidente Hugo Motta já está tomada. Vamos trabalhar para não ter CCJ nem comissão especial.”
O próprio deputado reconhece que existem mais de 30 PECs tratando de temas semelhantes e que a ideia é “concentrar tudo e levar direto ao plenário”.
Pressa política e tentativa de repetir o roteiro das reformas trabalhista e previdenciária
Na entrevista, Pedro Paulo justificou o encurtamento do rito afirmando que o país estaria “imobilizado” sem uma reforma administrativa e comparou o processo às reformas trabalhista, previdenciária e tributária:
“Reforma só acontece quando há liderança política. Se não houver coragem de enfrentar temas estruturantes, o país fica parado.”
Para o Sindsef-SP, esse discurso é o mesmo utilizado para aprovar reformas que retiraram direitos da população, precarizaram relações de trabalho e aprofundaram desigualdades. Ao afirmar que o rito abreviado é necessário “para não burocratizar” a discussão, o relator tenta transformar um ataque ao debate democrático em virtude política.
Desvio da regra
O caminho normal de uma PEC envolve três etapas:
- análise de admissibilidade na CCJ;
- debates e alterações em comissão especial;
- votação em dois turnos no plenário.
Ao pular duas fases fundamentais, a Câmara elimina espaços de audiências públicas, escuta técnica, emendas e transparência — exatamente os elementos que impediram a aprovação da PEC 32, derrotada pela mobilização dos servidores em 2021.
Ataque direto ao serviço público e insulto aos servidores
Pedro Paulo também afirmou ao Congresso em Foco que a resistência à proposta viria principalmente de “grupos organizados da elite do funcionalismo”.
Segundo ele:
“A base do servidor não está na Câmara contra a reforma. A elite é que se move.”
Essa fala, além de distorcida, desrespeita milhões de servidores — incluindo aposentados e pensionistas — que já sofrem com congelamentos salariais, sobrecarga de trabalho e sucateamento estrutural.
Professores, enfermeiros, técnicos administrativos, analistas e trabalhadores da ponta não são elite.
Elite é a minoria que acumula supersalários com penduricalhos, mantidos intocados pelo texto da PEC.
O que o relator chama de ‘modernização’
A entrevista ao Congresso em Foco mostra o que o Sindsef-SP vem denunciando:
a Reforma Administrativa não é modernização, é desmonte.
Entre os principais pontos levantados pelo portal e confirmados no texto:
- avaliação periódica como critério central de progressão, promoção e bônus;
- bônus anual equivalente a uma 14ª folha, atrelado ao cumprimento de metas — lógica privada dentro do Estado;
- proibição da progressão por tempo de serviço;
- planejamento anual com metas pactuadas;
- controle fiscal rígido sobre Poderes e órgãos, com limites atrelados ao arcabouço fiscal;
- redução da autonomia de tribunais, ministérios e órgãos públicos;
- expansão de contratos precários e enfraquecimento dos concursos públicos.
O Sindsef-SP destaca que todos esses mecanismos têm como consequência direta a precarização do serviço público, a substituição de direitos estruturais por gratificações voláteis e a criação de um ambiente propício ao assédio e à perseguição política.
Supersalários seguem protegidos — servidores da base pagam a conta
O deputado fala em “enfrentar privilégios”, mas o texto mantém intactos os benefícios das carreiras mais poderosas.
Enquanto isso:
- 70% dos servidores ganham até R$ 5 mil;
- apenas 0,3% recebem acima do teto constitucional;
- grande parte dos servidores está endividada por causa de congelamentos salariais e do custo de vida.
A PEC continua mirando os que ganham menos — justamente os que fazem o Estado funcionar.
Centrão dividido e futuro indefinido
Ainda segundo o Congresso em Foco, mesmo com o rito abreviado, a aprovação não é certa. O Centrão está dividido, partidos evitam se comprometer às vésperas de eleições municipais e, até o momento, a PEC não reúne os 308 votos necessários.
O número de retiradas de assinatura também mostra desgaste político.
Para o Sindsef-SP, isso revela o que a entrevista não diz:
a Reforma Administrativa só avança se for empurrada a portas fechadas — e justamente porque, quando chega à luz da população, não se sustenta.
A tentativa de acelerar a tramitação comprova que o conteúdo da PEC é impopular e frágil.
Se fosse uma proposta de modernização real, não precisaria fugir do debate.




