Na manhã da última terça-feira (26), familiares e apoiadores das vítimas do massacre de Paraisópolis realizaram um protesto em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, após mais uma audiência do processo ser cancelada. O Sindsef-SP esteve presente para prestar solidariedade às famílias e fortalecer a denúncia contra a impunidade e o genocídio promovido pelo Estado brasileiro através da Polícia Militar. <Confira aqui o vídeo>
O massacre ocorreu em dezembro de 2019, quando uma ação da Polícia Militar terminou com nove jovens assassinados, com idades entre 14 e 23 anos. Mais de cinco anos depois do crime, o processo segue sem responsabilização efetiva dos policiais envolvidos. O cancelamento da audiência da terça-feira, somado à decisão judicial que extinguiu a punibilidade de um dos réus, gerou revolta entre os familiares.
Vozes de dor e resistência
Durante o ato, Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique, morto aos 16 anos, desabafou sobre a dor e a indignação diante da impunidade:
“Eles condenam nossos filhos à morte, como fizeram com meu filho. Eles condenam nossos filhos e acham que está tudo certo. Mas não está! Não está certo matar o filho de ninguém!”
Cristina ressaltou que a luta não vai parar:
“Seguimos na luta até que os responsáveis sejam punidos”.
Ela também criticou a decisão que livrou um dos policiais da responsabilização:
“Mais uma vez a audiência do caso de Paraisópolis foi cancelada. Estamos aguardando a remarcação dessa nova data. Não só por este motivo, mas também temos o motivo da não punição do indivíduo que tava sendo responsabilizado pelo uso de bombas de morteiros e ficou nesse processo como se tivesse cometido um crime de menor gravidade e por essa razão foi concedido a ele o benefício de não responder mais por esse crime. E a gente está aqui protestando também contra isso. A gente precisa exigir que isso não fique dessa forma. É muito desrespeito com tudo que a gente está vivendo e com toda nossa luta, que está sendo uma luta muito cruel”.
O irmão de Denys, Danylo, também se pronunciou, apontando o descaso da Justiça:
“O que eles estão fazendo com a gente é tortura. Marcar uma audiência que os responsáveis pela morte do meu irmão não vão vir por atestado médico, por qualquer motivo que seja, e a gente ficar sem respostas. Isso é um absurdo!”.
Ele completou afirmando que a memória das vítimas seguirá sendo defendida:
“A gente vai seguir na luta. A gente vai seguir cobrando. Não só por justiça, mas também pela memória, porque se a gente não tiver aqui gritando, eles vão vir e taxar os nossos como as piores coisas da sociedade, quando na verdade, os terroristas são eles, que matam os nossos menores de idade, que estão jogando as pessoas da ponte. O terrorista é esse Estado que quando deveria nos defender, usa do nosso dinheiro para nos assaltar, para nos roubar e também para matar os nossos nas periferias com essas viaturas aí”.
Apoio do Sindsef-SP
O Sindsef-SP acompanha de perto o Movimento de Familiares das Vítimas do Massacre em Paraisópolis e assina o manifesto “Fora Derrite! Tarcísio é inimigo do povo”, que reivindica o fim do racismo estrutural e das mortes promovidas pela Polícia Militar nas periferias.
Para o sindicato, o genocídio da juventude negra, indígena, periférica e trabalhadora é uma política de Estado que só poderá ser derrotada com a organização independente da classe trabalhadora. Essa luta não é distante dos servidores públicos federais, mas parte de uma mesma batalha em defesa da vida, da justiça e da dignidade de todos os trabalhadores e trabalhadoras.