A situação da Cinemateca Brasileira exemplifica o descaso do governo Bolsonaro com o setor cultural brasileiro. Primeiro veio a extinção do Ministério da Cultura. Em seguida, a pasta foi rebaixada a uma Secretaria Especial e, por fim, em menos de 24 meses, já contou com 5 nomeações diferentes e esteve vinculada a dois ministérios.
Não é exagero afirmar que o desmonte do setor se trata de um projeto ideológico. E o fechamento da Cinemateca demonstra isso. O governo federal deixa cada dia mais claro que não tem a menor intenção de proteger um acervo que conta a história da cultura brasileira a partir dos filmes produzidos por cineastas, atores e diversos outros trabalhadores da cultura nacional.
Depois de amargar meses sem o repasse do orçamento previsto para este ano, veio o pedido da entrega das chaves do edifício e, na sequência, a demissão de todos os profissionais altamente capacitados que trabalhavam para a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), organização social que geria a instituição.
Ver a Polícia Federal escoltar a entrega das chaves do edifício certamente foi uma das cenas mais dramática desse filme. Mas é importante observar que o caminho até aqui passou por diferentes governos e que é histórica a política de descaso com a cultura no Brasil.
A Cinemateca já passou por graves incêndios, sendo que o último, em 2016, resultou na perda de mil rolos de filmes antigos. Para piorar ainda mais a situação , este ano, durante as fortes chuvas que assolaram a cidade em fevereiro, parte das instalações foi alagada. Nas duas ocasiões, a Secretaria do Audiovisual se absteve de suas responsabilidades e nenhuma autoridade adotou providências de reparação ou de prevenção de novos acidentes.
Além de cuidar da preservação, proteção e divulgação do cinema nacional, a Cinemateca Brasileira possui o maior acervo de filmes da América Latina. São mais de 250 mil rolos de filmes e mais de 1 milhão de documentos diversos, como livros, periódicos, recortes de jornal, documentos, cartazes e fotografias.
Os materiais sob a guarda da Cinemateca são altamente inflamáveis e sensíveis. Agora, com o encerramento definitivo do contrato com a Acerp, todo esse acervo está vulnerável, com risco de danos irreparáveis. O que torna mais urgente a necessidade de investimentos para preservação da memória audiovisual do país.
O Sindsef-SP é terminantemente contrário à entrega do patrimônio público à gestão privada, como é o caso das Organizações Sociais. Antes dessa situação se concretizar, lutou junto com os antigos servidores para impedir a mudança na forma de gestão.
Ao mesmo tempo, somos contra a transferência deste rico acervo para Brasília como recentemente foi divulgado na mídia. Isso porque o espaço onde hoje se encontra o acervo foi fruto de um trabalho altamente técnico para recebê-lo quando da sua construção. Investimento público que pode ser jogado fora caso esta ação se concretize. Sem contar todos os danos que podem acontecer durante a transferência executada por um governo que não consegue nem mantê-lo onde está.
Por isso, defende que a Cinemateca Brasileira volte a ser gerida plenamente pela Administração Pública, com realização de concursos para efetivar pessoal técnico capacitado no orgão.