Entre os dias 29 de maio e 1º de junho, o Itaú Cultural, em São Paulo, apresenta uma nova montagem do espetáculo Um grito parado no ar, escrito por Gianfrancesco Guarnieri (1934–2006) em 1973. Considerada um marco do teatro de resistência no Brasil, a peça ganha nova vida sob a direção de Rogério Tarifa, em um momento em que o passado ressoa de forma aguda nas tensões do presente.
A encenação atual, da companhia Teatro do Osso, amplia o caráter político e simbólico da obra original, propondo um ato-espetáculo musical que dialoga diretamente com os desafios enfrentados por artistas nos dias de hoje. Com dramaturgia assinada por Jonathan Silva, a peça incorpora relatos reais, novas inquietações sociais e conta com um coro formado por trabalhadoras, trabalhadores e estudantes secundaristas. A atriz Dulce Muniz, que atuou no Teatro Arena nos anos 1970, integra o elenco e estabelece um elo direto com a memória da primeira montagem.
Escrita durante a ditadura militar, em um contexto de repressão severa após o Ato Institucional nº 5 (AI-5), a peça coloca em cena um grupo de artistas tentando montar um espetáculo em meio ao caos político e às restrições econômicas. O Teatro de Arena já havia fechado suas portas, e Guarnieri, consagrado por sua trajetória como ator, diretor e dramaturgo, respondia à censura com arte e contundência. Hoje, mais de cinco décadas depois, a obra segue atual ao discutir a precariedade do trabalho artístico e as novas formas de silenciamento que ameaçam a liberdade de expressão.
A nova montagem não apenas homenageia o legado de Guarnieri, mas também o expande, oferecendo uma potente reflexão sobre a função social do teatro, o impacto da arte na construção de identidades e o fortalecimento de vozes historicamente silenciadas. Em sintonia com esse resgate, o sucesso recente do filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles — indicado a três categorias no Oscar 2025, incluindo melhor filme — contribui para reacender o interesse do público pelas histórias e personagens que enfrentaram a ditadura com coragem e criatividade.
Com direção musical de William Guedes e composições de Jonathan Silva, a peça evidencia a força da música como extensão dramatúrgica e elemento de resistência. A atuação coletiva, marcada pela diversidade do elenco, amplia as possibilidades de leitura da obra, costurando as urgências do passado às lutas ainda em curso.
As apresentações acontecem de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h, na sede do Itaú Cultural (Av. Paulista, 149 – Estação Brigadeiro do metrô). A entrada é gratuita, com reservas disponíveis online. Caso os ingressos estejam esgotados, o público pode formar fila presencial uma hora antes do espetáculo.
Serviço: Espetáculo Um grito parado no ar
29/5 a 1/6/2025
Quinta a sábado, às 20h; domingo, às 19h
Itaú Cultural – Av. Paulista, 149 (Estação Brigadeiro – Metrô)
Gratuito | Ingressos: bit.ly/Ingressos-IC
Foto: Cacá Bernardes
