Violência racista: o caso Felipe e os dados que o Brasil precisa encarar

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Em 26 de agosto de 2025, Felipe Moraes de Oliveira, artista negro de 29 anos, foi baleado fatalmente por um segurança de um supermercado em Santo André/SP, ao tentar entrar no estabelecimento acompanhado de seu cão.

O segurança, que trabalhava sem vínculos formais com o mercado, confrontou o jovem de forma abrupta e efetuou o disparo sem que houvesse ameaça. Felipe ainda tentou buscar socorro em uma farmácia próxima, mas não resistiu.

O episódio evidencia mais uma face do racismo: enquanto shoppings “pet friendly” recebem animais sem restrições, um jovem negro é assassinado ao tentar entrar com seu cão. O cão foi a justificativa; o alvo, mais uma vez, foi o corpo negro.

Quando a violência tem cor

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), expõe a dimensão da violência racista no país. Em 2024, a cada dez pessoas mortas pela polícia, oito eram negras. O estudo também aponta que mulheres negras são a maioria entre as vítimas de feminicídio e que policiais negros estão entre os mais atingidos pela violência letal em serviço.

Segundo o levantamento, 82% das mortes decorrentes de intervenção policial foram de pessoas pretas ou pardas. A imensa maioria das vítimas era de homens (99,2%) e jovens: as taxas mais altas estão entre adolescentes de 12 a 17 anos (2,3 por 100 mil) e jovens de 18 a 24 anos (9,6 por 100 mil).
Entre os que vestem a farda, pretos são os que mais morrem em serviço: em 2024, 170 policiais civis e militares foram mortos em serviço, sendo 65,4% negros.

No Atlas da Violência 2025 (Ipea/FBSP), os dados mostram que, mesmo com leve redução geral dos homicídios, o risco de uma pessoa negra ser vítima é 2,7 vezes maior do que para não negros — piora em relação a 2013, quando a razão era de 2,4.

Feminicídio de mulheres negras

Entre 2013 e 2023, 47.463 mulheres foram assassinadas. O feminicídio também é atravessado pela desigualdade racial: 63,6% das mulheres assassinadas eram negras, majoritariamente entre 18 e 44 anos (70,5%). A violência ocorreu principalmente dentro de casa (79,8%), praticada por parceiros ou ex-parceiros, sobretudo com armas brancas (48,4%) ou armas de fogo (23,6%).

Impunidade e justiça seletiva

A letalidade racial se agrava com a ausência de responsabilização. Há uma cultura de impunidade: atos brutais cometidos por agentes de segurança raramente resultam em punição eficaz.

O mês de agosto terminou com mais um exemplo. No domingo (31), o Tribunal do Júri absolveu sete policiais militares acusados de omissão durante o assassinato de 11 pessoas na Chacina do Curió (Fortaleza, 2015). Dez anos à espera de julgamento e a impunidade segue imperando.

Luto não basta

Não se pode normalizar mortes como a de Felipe. É preciso exigir justiça, estruturar políticas, reformar instituições e educar para que vidas negras não sigam interrompidas pela violência racista.

Medidas urgentes

Desmilitarização da segurança pública, resquício da ditadura: Acabar com o controle do Exército sobre a instrução, a formação e a estrutura organizativa; Fim da caracterização de funcionários militares para os integrantes das PMs; A população deve eleger os delegados responsáveis, por cidade ou zona administrativa; Controle permanente da polícia pela população por meio de Comitês Populares de Segurança eleitos pelos moradores.

Fora Derrite: Pelo fim da violência e abuso policial em São Paulo.

Investigação e Responsabilização: Garantia de apurações rigorosas e imparciais dos casos de violência policial, com a devida responsabilização dos envolvidos.

Educação Antirracista: Investimento em campanhas educativas que conscientizem a sociedade sobre o racismo e a importância de combatê-lo.

O Sindsef-SP repudia veementemente os casos de racismos, assassinatos da população negra e crimes de ódio e segue na luta, denunciando todo o tipo de opressão e exploração.

Com informações do site Alma Preta; UOL, IPEA, Anuario Brasileiro de Segurança Pública 2025

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