1° Encontro sobre a mulher negra, realizado no Sindsef-SP, aconteceu no sábado 30 de julho. Desde às 8h os convidados começaram a chegar para prestigiar o evento. Depois do credenciamento os participantes apreciaram um farto café da manhã, com delicias da culinária africana e diversas frutas.
O encontro celebra o dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho. O evento encerrou um conjunto de atividades proposto pela CSP-Conlutas para o mês de julho.
Esteve presente ao encontro a diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Rilma Silva, que também participa do Setorial de Negros e Negras da Central. Além da Associação Democrática dos Metalúrgicos Aposentados (ADMAP), representada pelo companheiro Simão. Ambos fizeram uma saudação, lembrando a importância da atividade.
Em seguida Sandra Fortes, Professora e integrante do Ilaese (Instituto Latino Americano de Estudos Sócio Econômicos), começou a palestra. Seu jeito descontraído despertou a atenção dos participantes. A pesar da seriedade do debate, Sandra arrancou alguns sorrisos do plenário, com sua abordagem direta e verdadeira.
A professora lembrou que as mulheres negras têm histórias de luta. Porém o preconceito esconde a realidade combativa destas guerreiras. Em suas batalhas cotidianas, contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Estudos mostram que no Brasil as mulheres são maioria e representam 51,2% da população, sendo 46% delas pretas e pardas. Sandra ainda explicou, que a mulher negra está na base da pirâmide social, com os piores salários, as colocações menos prestigiadas e sofrendo violências de toda ordem, inclusive física e sexual. Para a professora “a mulher negra carrega a pirâmide nas costas”, disse. No mundo do capital, no qual a regra é acumular lucros explorando os trabalhadores, a melhoria de vida das mulheres negras só pode ser resultado de sua luta e organização com o conjunto da classe trabalhadora contra os que as oprimem e as rebaixam para lucrar mais.
De acordo com as pesquisas, apesar de a mulher negra estudar mais que o homem negro, possui salários mais baixos. A combinação entre machismo e racismo vitima, cotidianamente, a mulher que ganha menos que a mulher branca e menos que o homem negro. Em média R$ 435,00, menos que o salário mínimo (IPEA).
Quem também contribui para o evento foi Maristela Farias, integrante do Quilombo Raça e Classe. Maristela ressaltou a importância de construir um calendário para aprofundar o debate da questão racial nos locais de trabalho e não somente nas datas comemorativas.
Antes do encerramento houve várias intervenções registrando a importância do debate. A servidora do IPEN e ex-diretora do Sindsef-SP, Ana Maria, relatou que foi vitima de racismo em seu local de trabalho, há alguns anos. Para ela foi muito importante o apoio recebido pelas diversas entidades engajadas na discussão racial.
Do encontro surgiram várias propostas de encaminhamentos:
Referendar o dia 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha como uma data a ser incorporada no calendário do movimento;
Realizar pesquisa sobre o percentual de mulheres negras no serviço público e quantas delas ocupam cargos de chefia;
Realizar atividades de combate às opressões abertas à participação da população;
Calendário de debates na base sobre a questão racial, não só datas comemorativas;
Fortalecer a luta contra o racismo, construindo no cotidiano o Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe;
Apoiar o Setorial de Negros e Negras da CSP-Conlutas na construção do Dia 20 de Novembro em todo país;
Organização de um coletivo para construção de atividades do Sindsef-SP, no dia 20 de Novembro
A partir da realidade da mulher negra e a comunidade negra nos serviços públicos propomos implementação da lei de cotas raciais no serviço público e concursos públicos. Sem cortes no orçamento público;
Participar da Audiência da Lei 10.630/02 que institui ações afirmativas e cotas no serviço público, em Brasília, com outras centrais, no Ministério do Planejamento;
Reafirmar a discussão entre os Setoriais de Negros e de Educação sobre a campanha de implementação da Lei 10.639 – de disciplinas de História da África, dos negros e negras brasileiras, em todos os níveis escolares da educação brasileira;
Combater o bulling nas escolas que afeta grande parte das meninas negras;
Combater a exploração sexual das crianças. No Nordeste, a imagem de meninas negras muitas vezes é associada aos pacotes turísticos;
Lutar pelo PCCS, incluindo o corte de raça e classe, para que as negras tenham uma mobilidade social em sua carreira no serviço público;
Creches e licenças maternidade para o pai e mãe no serviço público e mais verbas para a Educação e a Saúde, e não mais desvios do orçamento;
Construir no dia 16 de agosto comitês de defesa dos quilombolas e apoio a marcha no dia 14 de setembro;
Assinar a Carta de Porto Alegre (final do relatório) em apoio ao movimento quilombola;
Resgatar a campanha de solidariedade às mulheres negras haitianas, que passam por uma situação de riscos eminentes em seu cotidiano com a ocupação militar das tropas da Minustah e brasileira. Pela manutenção da campanha internacional contra a permanência das tropas da ONU e Brasileiras no Haiti, com ênfase na defesa e luta contra a exploração e opressão das mulheres negras haitianas. Somos contra o Plano Hope que é o pacto de fim da soberania haitiana frente às exigências do governo Obama.
Defender uma política específica para as mulheres negras que vise combater as diferenças, o desemprego (salário igual para trabalho igual), a violência e baixa formação escolar (creches públicas e cotas na universidade);
Lutar pela descriminação e legalização do aborto para as mulheres, e que o SUS tenha serviços públicos, estatal, gratuito e de qualidade especializados em aborto, e com atendimento por uma equipe multiprofissional e assistência do estado caso a mulher, em especial as negras, decidam ser mãe;
Participar do Debate no dia 07 de agosto com representantes dos Panteras Negras em visita ao Brasil – Endereço: Rua Florêncio de Abreu, 248 – Metrô São Bento.
Seguir o exemplo do Sinsprev/SP e fazer o lançamento da revista raça e classe no Sindsef/SP
Leia a íntegra do relatório do 1° Encontro sobre a Mulher Negra:
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