Crítica: Os Banshees de Inisherin

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OS BANSHEES DE INISHERIN (The Banshees of Inisherin)

Reino Unido/Irlanda/EUA – 2022 – 114 minutos

Em cartaz nos cinemas: Frei Caneca sala 3, Marquise sala 2, Reserva Cultural sala 2, Belas Artes, Itaú Augusta sala 3, Pompeia salas 4 e 10, CineSala

Cena de Banshees de Inisherin. Imagem: Walt Disney Studios

Vou começar pelo Oscar: o fato de ter recebido 9 indicações ao cobiçado prêmio indica que ainda há vida inteligente entre os votantes da Academia (apesar de outros títulos indefensáveis também concorrentes). As categorias são: filme, diretor e roteiro original (Martin McDonagh), ator (Colin Farrell), atriz coadjuvante (Kerry Condon), atores coadjuvantes (Brendan Gleeson e Barry Keoghan), trilha sonora (Carter Burwell) e montagem (Mikell E. G. Nielsen).

Uma injustiça foi cometida com a ausência de Ben Davis como fotógrafo (evidentemrnte não pelas belas paisagens da costa irlandesa e sim pela qualidade plástica da fotografia). No quesito prêmios recebeu 3 Globos de Ouro como melhor filme de comédia ou musical (!!!), ator e roteiro original.

Na Mostra de Veneza do ano passado foi laureado como melhor roteiro e Colin recebeu a “Copa Volpi” como melhor ator. Foi exibido no Festival do Rio de 2022. Foi justamente em Veneza que pela primeira vez ouvi falar do filme, mas quase precisei de um glossário para entender o título.

Para quem eventualmente ainda não sabe, transcrevo a definição de “banshee” pela imprensa francesa: “legendária figura fantasmagórica da mitologia irlandesa (leia-se celta), que chora à noite para alertar sobre uma morte nas redondezas”. No filme, em princípio, a presença sinistra de uma velha pode evocar essa entidade.

Quanto a Inisherin, trata-se de uma fictícia ilha isolada ao largo da costa oeste da Irlanda.  Daí que a ação, que transcorre em meados dos anos 20, permite que as personagens somente ouçam ao longe ecos de uma guerra civil travada no continente.

O argumento gira em torno da longeva amizade entre Padraic (Farrell) e Colm (Gleeson). Repentinamente, porém, Colm rompe essa fraternal ligação, alegando que não quer mais que o amigo dele se aproxime. Absolutamente perplexo Padraic não aceitará essa atitude, o que terá funestas consequências. Sua irmã Siobhan (Condon) e até o jovem um tanto desajustado Dominic (Keoghan) partilharão desse estupor. Sendo esse o cerne da obra, podemos até pensar no teatro do absurdo, em Beckett (também irlandês), pois as situações evoluem com um certo “nonsense”.

Posteriormente, entra uma profunda questão existencial quando Colm (de idade um pouco avançada) justifica seu comportamento porque quer aproveitar melhor o tempo que lhe resta para dedicar-se à música na esperança de que algo dele permaneça quando se for.

“Waste time no more!” É óbvio que o tema então abordado é a futilidade e a efemeridade do homem em oposição à permanência da Arte. A condição da solidão do ser humano está o tempo todo presente como “background”, chegando a ser explicitada nos diálogos. Uma pungente fábula sobre a incomunicabilidade sem abrir mão de um terno tratamento das personagens.

McDonagh (de “Três Anúncios para um Crime”) conduz sua realização impregnando-a de uma certa melancolia, mas injetando imprevistamente cá e lá algum humor.

A atmosfera do filme beneficia-se da música de Burwell (habitual colaborador dos irmãos Coen), que já compora para “Três Anúncios…”.

Das revistas especializadas a Positif deu 5 estrelas ao filme, Les Inrockuptibles, 2 e os Cahiers du Cinéma, 1.

Um filme tocante e não facilmente classificável, mas que fará desde já parte dos melhores do ano.

Luiz Gonzaga Fernandes

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