Crítica do filme TÁR (idem, de Todd Field)

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TÁR (idem)

EUA – 2022 – 158 minutos

Em cartaz nos cinemas

Mesmo o fato de desde muito cedo ter sido um espectador assíduo e atento à produção cinematográfica não faz com que me sinta uma pessoa privilegiada ao tentar analisar os filmes tampouco o fato de ter profissionalmente trabalhado por 34 anos na Cinemateca.

Preâmbulo necessário para confessar (perplexo eu mesmo) que não me sinto à vontade para analisar TÁR sem que saiba com precisão o porquê. Meus textos são assumidamente muito mais impressionistas que analíticos e embasados. Com vergonhosa platitude, digo que é um filme de que gosto e de que não gosto e que no conjunto vejo quase como uma dobradinha: “dois em um”.

Prá começo de conversa, nunca infelizmente estudei música (fora as aulas de canto orfeônico no ginásio). De música erudita, tenho tão somente noções rasteiras e elementares, ainda que aprecie muito e tenha frequentado sempre salas de concerto. Mesmo com essa precária bagagem, na primeira metade, digamos, do filme, senti o cuidado com a abordagem da música clássica e as referências à história da música sempre batiam com o que sabia.

Suponho que um espectador com mais conhecimento não porá respaldos nesse sentido. Paira uma austeridade e uma erudição quase intimidante sobretudo nos diálogos, fruto certamente de muita pesquisa.

Imagem: Universal Pictures

Tudo gira em torno de Lydia Tár, compositora e maestro (tal como deseja ser chamada, já que não há um feminino para “astronauta”, por exemplo, como mulheres que querem ser denominadas poetas e não poetisas). Impôs-se por seu talento num mundo ainda predominantemente masculino, foi “conductor” das mais respeitadas orquestras e é a primeira mulher a ocupar o cobiçado cargo de regente da Filarmônica de Berlim, além de ter sido como bem poucos artistas laureados com os principais prêmios em diferentes áreas.

Há anos vive com sua companheira Sharon (Nina Hoss, sempre brilhante), violinista da mesma orquestra, e têm uma filha adotiva, a menina Petra (Mila Bogojevic). Sua assistente Francesca (Noémie Merlant, notável) é particularmente eficiente e tem por Lydia uma genuína devoção. Sua vida começa a desandar quando é acusada de, com sua poderosa influência, ter prejudicado uma musicista que não mais pertence ao quadro da orquestra que, sem perspectivas, se suicidou.

Imagem: Universal Pictures

Simultaneamente, Lydia passa a sentir-se bastante atraída pela nova “cellista”, a jovem e bela Olga (Sophie Kauer), uma imigrante russa. Essa segunda parte da realização incidirá em sua derrocada e na revelação de como insidiosamente sempre usou abusivamente de sua posição privilegiada. Perdoem-me, mas não resisto à tentação de fazer uma brincadeira de gosto duvidoso ao dizer que Tár passa a ser seu oposto, ou seja, Rat!…

Me incomoda menos o fato de a personagem impecável e idealizada ser desmascarada, mas não gosto nada do tom sobrecarregado, pesado e um tanto grosseiro com que as coisas evoluem. A cena final então é devastadora e concebida para chocar. O diretor e roteirista Todd Field bem ou mal realizou um filme polêmico; no IMDB há 202 avaliações da crítica!

A imprensa francesa amou o filme e até os sisudos Cahiers du Cinéma deram 4 estrelas, assim como Les Inrockuptibles (estranhamente a Positif não se pronunciou). Considero extremamente bem elaboradas as sequências dos pesadelos da protagonista, numa linguagem que evidentemente foge do realismo.

TÁR está concorrendo a 6 das mais importantes categorias do Oscar: filme, direção, roteiro, fotografia (Florian Hoffmeister), montagem (Monika Willi) e obviamente atriz (Cate Blanchett). Quanto à sua interpretação, diria que padece dos mesmos problemas da obra: no começo, interiorizada, matizada, um assombro de precisão e domínio; depois “overacting”, histérica, até caretas faz…

Na trilha sonora, falava-se muito da onipresença da Quinta Sinfonia de Mahler, mas saí do cinema mais com os belos acordes de Concerto para Violoncelo de Elgar na cabeça. Um bálsamo!

Por Luiz Gonzaga Fernandes

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