Nota do Sindsef-SP sobre o oportunismo das elites no caso Santiago

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Santiago Andrade, cinegrafista da TV Band, foi a primeira vítima fatal das tensões sociais provocadas pelo descaso dos governos com as reivindicações populares. Santiago merece toda a nossa solidariedade e todas as homenagens. Foi um trabalhador que perdeu a vida no desempenho de seu ofício. Ainda não se sabe, contudo, quem foi o responsável, a quem é ligado e qual sua verdadeira intenção. Mas muito já se especula a respeito e é preciso ter cautela. Até porque os setores da sociedade contrários às manifestações querem, desrespeitosamente, tirar proveito da situação.

Desde a deflagração das Jornadas de Junho, em 2013, muitas foram as vítimas da violência. Manifestantes e jornalistas foram atingidos por balas de borracha, spray de pimenta e bombas. Até então, a polícia militar havia sido responsável pelos casos mais graves. Mas não podemos nos esquecer também dos fascistas que agrediram militantes de partidos políticos e da tática equivocada de confronto dos Black Blocs.

Agora, o trágico desfecho da manifestação do Rio de Janeiro está sendo usado como pretexto para acirrar a repressão contra os movimentos sociais. De forma irresponsável, acusações sem provas são alardeadas pela maior emissora de TV do país. Senadores têm declarado que o caso se enquadraria numa lei antiterrorismo. Parafraseando o filósofo italiano Giorgio Agamben, um Estado que parte do pressuposto de que todo cidadão é um terrorista em potencial continua sendo um Estado democrático?

Cerca de uma semana antes do episódio que resultou na morte do cinegrafista da Band, a jornalista Rachel Sheherazade, apresentadora do Jornal do SBT, defendeu o linchamento de um jovem negro e pobre sob o argumento de que a sociedade teria o direito à “legítima defesa coletiva”. Mas, atenção: ela não disse que o povo tem o direito de se defender da repressão do Estado. Ela defendeu o direito dos brancos de classe média fazerem “justiça com as próprias mãos” contra os pobres, quando a repressão do Estado parece insuficiente.

São dois episódios diferentes, é claro, mas com algo em comum: a cultura da intolerância contra o povo, que ganha espaço crescente no horário nobre da televisão brasileira. Cultura que gera comentários do tipo “essa turma dos direitos humanos só defende bandido”, “os movimentos sociais não passam de baderneiros”, “pra que índio quer terra se não trabalha?”, “não tenho preconceito, mas…” Um ex-presidente do Brasil, Washington Luís (homenageado como nome de rodovia em São Paulo), dizia que “questão social é questão de polícia”. Muita gente ainda acredita nisso.

Vivemos um período de intensificação das lutas. É óbvio que a classe dominante fará de tudo para desqualificar os movimentos sociais. De nossa parte, temos de agir com cautela. A organização é nosso maior trunfo. Devemos ir juntos às ruas, sob as bandeiras da classe trabalhadora. Sem medo de ser rotulados como radicais, pois as necessidades do povo são radicais. Mas é preciso rejeitar ações isoladas, individualistas, que não representam o clamor coletivo e podem até colocar em risco a mobilização.

Recuar agora é tornar vão o sacrifício dos que tombaram!

 

 

São Paulo, fevereiro de 2014.

 Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado de São Paulo (SINDSEF-SP)

 

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