O dia 25 de julho, desde 1992, é marcado como o “Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha”, reconhecido pela Organização das Nações Unidades (ONU) e pelos Movimentos Sociais em especial o Movimento Negro.
O Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, que integra a CSP-Conlutas, saúda a todas as mulheres negras do país e do mundo, e propõe nesta data uma reflexão sobre até que ponto a mulher negra – principalmente no Brasil – avançou em direitos, em igualdades –
e o quão árdua é sua luta, ainda!
(Foto: Sindsef-SP presente em atividade no 25/07/2013)
Mulher negra ainda é submetida aos piores empregos e salários
As mulheres negras ocupam majoritariamente atividades de subemprego, com baixa remuneração, insalubridade e sem proteção trabalhistas. Estão, em sua maioria, presentes no trabalho informal e nas funções de empregadas domésticas, sendo 23% da população nessa atividade. A maioria, cerca de 60%, são chefes de família e ganham até um salário mínimo e continuam com baixa escolaridade. E em comparação com homens brancos a renda média é 2,7 vezes menor; 1,8 menor do que as mulheres brancas e 1,3 menor do que homens negros.
Desta forma, há uma desigualdade de raça e de gênero na diferenciação salarial, bem como na divisão social do trabalho, na qual a mulher negra vem exercendo atividades precárias e totalmente desvalorizadas.
O trabalho doméstico, exercido na maioria por essas mulheres, ainda é tratado como de propriedade privada, pois é regido por pouca ou nenhuma legislação trabalhista. Apesar da aprovação no ano passado da legislação sobre o trabalho doméstico, os direitos não são respeitados, o que o torna uma das mercadorias mais baratas. É também um trabalho alienante, já que não produz valor para a própria mulher a não ser o salário miserável, mas existe para que o trabalho de outros se efetivem: o do marido, do patrão e mulher dona da casa. Portanto, a mulher negra é condicionada em diversos níveis de subordinação e exploração.
Retrato da mulher negra:
• O Brasil possui 7 milhões de empregos domésticos. Mais de 60% são ocupados por negras. Somos maioria no trabalho terceirizado, temporários e telemarketings.
• Nossos salários não chegam até o fim do mês. Desde 2009, negras chefiam famílias com renda de 500,00 reais mensais e, 70% desses lares não possuem máquina de lavar.
• Somos 60% das vítimas da violência doméstica e sexual. Moramos nas periferias com ruas mal iluminadas e inseguras, e onde faltam delegacias da mulher e casas-abrigo. Sobram estupros, abortos inseguros e impunidade.
• Faltam 107 mil vagas em creches e pré-escolas em SP. Somos nós negras da periferia, que sem opção, deixamos nossos filhos aos cuidados dos irmãos mais velhos e parentes.
• Dependemos dos serviços públicos de transporte, saúde e educação e passamos muito sufoco. Filas imensas, falta de vagas, pouca qualidade e muita espera para as consultas, esta tem sido a regra.
• Jovens negros têm 136% mais chances de serem assassinados que jovens brancos. A violência policial e os confrontos com tráfico geram um extermínio, que leva a vida de filhos, irmãos e maridos. Mulheres negras e seu protagonismo na história
No Brasil, historicamente as experiências de lutas dos negros se constituíram através de fugas, revoltas individuais e grupais, atos delinquentes, etc. Foram nos quilombos, sobretudo de Palmares, que cuja resistência durou aproximadamente 65 anos, que pôde ser observada maior tentativa de autogoverno com organização militar, econômica e social.
Neste quilombo, as mulheres negras tiveram papel destacado nas lutas de resistência, suas atuações foram diversas e ativas nas revoltas, guerrilhas e organização de quilombos. À frente tivemos mulheres negras como Aqualtune, que chefiou o Quilombo de Palmares, e Dandara, companheira de Zumbi; Teresa de Quariterê, também do Quilombo de Zumbi; Luiza Mahin, uma das líderes da revolta dos Malês; entre outras.
Embora se reconheça que houve várias formas de lutas contra o racismo no decurso da sociedade capitalista, as organizações feministas puderam se desenvolver plenamente a partir de 1970. Este contexto foi marcado por governos ditatoriais e, todas as organizações nesse período, tinham em comum a luta pela redemocratização do país e a busca por direitos. As mulheres negras se organizam nesse período tentando dar visibilidade às formas de exploração e opressão que relegava o lugar das mulheres negras na base da pirâmide social e nos trabalhos manuais como domésticas. Entre os exemplos, temos importante levante pelos direitos civis nos Estados Unidos, as lutas contra o colonialismo português no Continente Africano; as mobilizações no Caribe, como durante a ocupação Militar norte-americana no Haiti ou ainda a guerrilha na Nicarágua.
A eleição de mulheres aos cargos mais altos em diversos países não significaram avanços para a luta das mulheres e muito menos para as mulheres negras. Assim foi desde a eleição de Violeta Chamorro na Nicarágua, Margareth Thatcher na Inglaterra, Cristina Kirchner na Argentina, Dilma Rousseff no Brasil, a primeira ministra Angela Merkel na Alemanha, dentre outras. Mulheres que ajudaram a implantar o neoliberalismo e dão continuidade a essa política em suas gestões. Mulheres negras à luta por direitos iguais!
O Movimento Quilombo Raça e Classe ressalta a história da organização dos setores oprimidos da sociedade, na busca de sua emancipação junto à classe trabalhadora. A luta das mulheres negras não deve ser desvinculada da de gênero e raça, uma vez que a desigualdade só será dará através da organização e das lutas dos oprimidos por uma sociedade socialista e plural, sem machismo, sem racismo e sem homofobia!
Participe das atividades nos estados em alusão ao 25 de julho organizadas pelo Quilombo Raça e Classe e Movimento Mulheres em Luta!
Confira a agenda em São Paulo:
DIA 25 DE JULHO
Às 6h
Panfletagem na Estação de Metrô Capão Redondo
Panfletagem na Estação de Trem de São Miguel Paulista.
Às 17h
Atividade do SINDSEF-SP – Dia de Luta Latino Americano e Caribenho da Mulher Negra-Hotel São Paulo Inn, Largo Santa Ifigênia, 44 – Centro – Próximo ao metrô São Bento.
Às 19h
Atividade Subsede Apeoesp São Miguel no Dia de Luta Latino Americano e Caribenho da Mulher Negra- Rua Corveta Beberibe, 36- Cidade Nova São Miguel- Trav. da Avenida Mohamed Ibrahim Saleh, próximo do ponto final da linha1178 Correio-São Miguel.
Às 20h
Panfletagem no Festival de Hip Hop de Perus- Praça Inacio Dias, em frente à Estação de Trem Perus, Linha 7 Rúbi da CPTM.
DIA 26 DE JULHO
Às 06h
Panfletagem na TMKT (Serviços de Telemarketing) – Avenida Brasil, 1230 – Calmon Viana-Poá- Próximo a estação Calmon Viana da CPTM.
Às14h
Discussão na Plenária Estadual da CSP-Conlutas- No SINDSEF – rua Alváro Penteado, nº 97 – 6ºandar/centro
Às18h
Panfletagem no festival de Hip-Hop de Perus – Céu Perus
DIA 02 DE AGOSTO
Às15h
Debate sobre a violência contra as mulheres na Associação do Jardim das Rosas- Rua Abril Peres nº1, uma rua paralela a Av. Dom rodrigo Sanches, região do Capão Redondo, (Ponto de referência: Creche do Jardim Irene/ ou Igreja Católica Santa Terezinha)
<Veja as ações em outros Estados no site da CSP-Conlutas>
Com informações de Maristela Farias
Quilombo Raça e Classe